segunda-feira, 14 de abril de 2008

Saudade não se teoriza, se sente. É presença da ausência. Mas há saudade e
"saudade".
Saudade cruel e saudade doce, boa. A saudade cruel é aquela do que está
longe. Do que vislumbramos, conhecemos até, mas não temos dentro de nós.
Essa dói, machuca, tira o sono, maltrata, rouba o riso, modifica o olhar,
entristece.
Mas não é saudade, de fato, é falta. Falta do que, ou de quem não se têm.
Falta é verbo que tem cheiro de vazio, é lacuna; saudade é substantivo que
se transforma em advérbio de intensidade, intensidade do sentir. É sensação,
é plenitude, é lembrança. E somos afortunados. Não há em outra língua
verbete para traduzir esse sentimento.

Saudade boa, saudade, saudade, essa é doce. Dói? Dói sim, mas não é cruel, é
uma dorzinha boa de sentir, leve, que enche o peito, faz sonhar, sorrir,
eleva o olhar para o passado, gera suspiros e é, como afirmei, presença da
ausência. É presença do que, ou de quem, tivemos e teremos sempre dentro de
nós.

Longe eu sinto saudades do céu onde meu pai tem a chácara, porque aquele
céu está dentro de mim. Aqui nessa cidade eu sinto saudades do mar. Porque
ele está dentro de mim. Então é um sentir bom. E que pede música e que a
música atrai.

Saudade é identificação da ausência. E nada torna mais presente o que está
ausente do que sentir saudades.

Saudade é vida. Só morremos quando esquecidos, quando não somos mais
presente em ninguém e isso quer dizer que não existimos mais em nenhuma
memória.

Saudade boa é consciência de algo ou alguém. Não sentimos nunca saudades
do que não nos emocionou, provocou sorrisos, prazer, amor, êxtase,
sentimentos verdadeiramente bons. E as músicas, os poemas, os textos, as
canções, não servem para outra coisa senão para traduzir o que não
conseguimos definir; para falar por nós, ratificar o que sentimos. Então, se
por acaso lhe vem à mente uma música antiga ou atual, brega ou moderna, ou
se uma paisagem ou um céu estrelado ou uma imagem do passado ou de alguém,
lhe surgir na mente; ou se um trecho de um poema, de um texto qualquer, lhe
provocar um suspiro, e de repente você sentir saudades. Não se espante, nem
se entristeça. Aproveite!

Agora se alguém disser que sente saudades de você, comemore duplamente.
Triste é não ter do que ou de quem sentir saudades. E mais triste ainda é
não deixar saudades em ninguém.

Um comentário:

Suzi Xavier. disse...

Após procurar encontrei este mesmo texto, com uma autoria;
Maine Virginia Carvalho